Variação I — nos interstícios
(Estou aqui, metido dentro de uma curva.)
Estou na tangente.
(Estou quase imóvel.)
Sou corpo.
(Não penso.)
Estou.
(A melhor forma de pensar é a caminhar, em linha recta, ou a divagar em voz alta.)
Substituo as curvas cerebrais pelos gestos do corpo.
(Os caminhos entendem o meu pensamento.)
Curvam-se as linhas à minha passagem.
(Assumo uma visão de longo prazo, mas com a intensidade de cada momento.)
Sei o infinito da reta, mas só existo em cada ponto.
(Fernando Pessoa escreveu: “quem tem alma não tem calma”.)
E “sou minha própria paisagem”.
(Aqui estou, com a alma em cada detalhe e o coração a iluminar o nevoeiro.)
Vejo que aqui estou, com os olhos de me ver a mim.
(Não saio da curva. Nem enceno partidas.)
Permaneço em tangente.
(Estou.)
15 de fevereiro de 2021
Variação II — universos paralelos
O aqui de cada aqui
Estou em linha mas assumo uma curva de partidas
Meu longo pensamento escreveu dentro da curva
Tem voz o nevoeiro metido em cada momento de calma
A intensidade de alma a iluminar os caminhos
Estou quase melhor a divagar com Fernando Pessoa
A caminhar imóvel
Estou: penso [ou] não estou: saio
Enceno e entendem
A alma não é reta nem forma alta
Quem não pensar com o coração em detalhe
Tem uma visão a prazo
17 de fevereiro de 2021