Texto que escrevi para a Revista Culturalmente: Nº 1 (novembro 2023)
Gosto de pensar na dança como uma forma de estudar o movimento.
E como me parece que nada não está em movimento, a dança poderá estar em tudo.
A dança está nos passos complexos dos bailados clássicos, mas também nos gestos espontâneos que ocupam as discotecas. A dança está nos grandes auditórios espalhados por quase todo o mundo, mas também em qualquer outro espaço que se decida transformar em palco efémero. A dança está nos corpos das pessoas que a escolhem como atividade profissional, mas também em qualquer outro corpo que se disponibilize para o movimento.
E todas estas danças podem nascer da vontade da experiência interior de movimento, mas também de um olhar externo que as procura no movimento do mundo.
Um movimento que vai desde as micro-danças das partículas dos átomos, às macro-danças dos corpos astrais. Um movimento que vai desde a livre circulação de multidões pelas ruas das cidades, às migrações forçadas como fuga às zonas de risco. Um movimento que vai desde a exploração dos limites físicos do exercício do corpo, aos objetos tecnológicos que criámos para se moverem por nós. Um movimento que vai desde o legado de mobilidade transmitido de corpo para corpo, de geração em geração, às novas corporalidades que respondem às particularidades de cada corpo, de cada geração.
Serve o movimento que dei ao texto para espelhar que, naturalmente, a dança transborda os contornos que lhe desenhei.