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Depois de todos se encontrarem no cimo das escadas, em diferentes linguagens de danças populares (semelhantes a contextos de dança social, urbana, disco, etc), a secção dos ‘Gigantones’ inicia com Lara a aproximar-se de Joana e Raquel. Entre um ritmo de corpos animado e irregular, as intérpretes aproximam-se gradualmente, e formam uma situação de ‘gigantone’. Isto consiste em uma primeira pessoa que se encontra ‘às cavalitas’ (sentada nos ombros) de outra, segunda, enquanto que a terceira dá a mão à primeira - o resultado consiste numa espécie de dois seres distintos (um maior - composto pelas duas primeiras, levado pela do mais pequeno). Esta construção de corpos surgiu como uma espécie de resposta a uma questão que se levantou frequentemente durante o processo - o facto de o local (a Praça) ser monumental ao ponto de os corpos dos bailarinos serem de certa forma ‘engolidos’ pelo espaço. Numa tentativa de criar mais impacto do corpo no espaço, nasceu esta imagem, que pode, posteriormente ser transformada em movimento.
Após a montagem do primeiro ‘gigantone’, este atravessa os corpos dançantes em direção à parede, caminhando calmamente.
Fotografia: Andreia Alpuim
Ao passar pela primeira janela da parede, as três intérpretes olham para a mesma (o que se torna visível, é o seu próprio reflexo) - esta é a deixa para desmontar o ‘gigantone’.
Fotografias: Andreia Alpuim
Segue-se uma sequência, que executada pelas três, atravessa o espaço, rasgando uma linha paralela e próxima à parede. Após a descida de Joana das ‘cavalitas’ de Raquel (com o auxílio de Lara), os três corpos desenvolvem imediatamente para a tal trajetória. Esta é feita através de uma espécie de ‘corda humana’, onde as três de mãos dadas, tentam chegar à instalação de cortiça. Como que em forma de jogo, a de trás só pode largar a mão da do meio, quando a da frente chegar ao seu lugar (a de trás corre para a frente da corda humana, e assim sucessivamente). Cada vez que mudam de lugar, a posição em que se esforçam para se deslocar na direção pretendida, muda. Ora tentam alcançar com um membro superior, ora com um membro inferior, com o tronco, ou até com a cabeça. Numa composição bidimensional de grande dinamismo, onde a tensão, o esforço e a intenção de jogo em equipa são notórias nos corpos, Joana, Lara e Raquel acabam por assemelhar-se a um relevo de um frontão grego. Numa narrativa escultórica, é possível estabelecer este paralelo, dada também a imponência da Praça do CCB. Com a sua monumentalidade, ordem, proporção e harmonia, materializadas por altas paredes de calcário, que recortam um espaço árido naquilo que é a Praça, quase que podemos compará-la a uma construção arquitetónica grega.
Fotografia: Andreia Alpuim
Entretanto, o segundo ‘gigantone’ surge - composto por Pedro, Sofia e Mafalda, no entanto estes mantém-se na situação durante mais tempo. O percurso que fazem também é diferente, dado que este passa apenas pelas linhas de pedra que existem no chão. Estes contornos desenham formas quadrangulares, no solo, pelas quais o ‘gigantone’ se desloca, mudando de direção.
Fotografia: Andreia Alpuim
Depois de vários trajetos percorridos nesta formação, quando estes desfazem o ‘gigantone’, já Joana, Lara e Raquel se encontram nas posições para a secção seguinte.
Enquanto isto se sucede, Gisela, Jonathan e Rita deslocam-se em direção ao primeiro lixo da parede em causa e executam uma sequência de posições e situações várias - Rita empoleira-se em cima do caixote, alterando a superfície do corpo em contacto com o mesmo, Jonathan senta-se ao lado e explora também diferentes abordagens, enquanto que Gisela, próxima de ambos, varia entre várias posições, mas no nível mais baixo (chão). Estes três corpos vão criando diversas imagens, compondo visualmente e interagindo uns com os outros.
Fotografia: Joaquim Leal
Seguidamente, desfazendo a situação anterior, os três formam uma espécie de ‘comboinho’, e deslocam-se paralelamente à parede (mesmo trajeto feito pelo grupo da ‘corda humana’). Bem juntos, e sempre com uma parte do corpo em contacto com o corpo da frente, cada vez que passam por uma janela, param, olham, e trocam o sítio do corpo onde agarram a pessoa da frente (cintura - cotovelos - ombros - cabeça).
Entretanto, Noeli, Lia e Rita C. recorreram aos orifícios presentes na parede das escadas, explorados anteriormente, como estímulo para a sua subida das escadas. Ao chegarem à Praça, muito rente à parede, como que rolam pela superfície irregular, explorando os desníveis da mesma e arrastando-se para a posição da secção seguinte.
Gisela, Rita e Jonathan também, após terminarem o seu trajeto, se arrastam para as posições que se seguem.
Esta parte termina com todos os bailarinos dispostos em linhas, em situação estática e olhando uns para os outros, prontos para o desenrolar da peça.
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